Quando já era
adolescente, Alcabideche permaneceu no mesmo estado social e arquitetónico,
mudara apenas o relevo que alguns homens dedicados ao estudo da evolução histórica
do concelho, como Guilherme Cardoso, conseguiram dar ao poeta islâmico, aos
moinhos e aos ventos.
A partir dos
anos noventa do século passado chegaram em força os serviços e o comércio. O
centro económico do concelho tendeu a fugir da beira-mar, como se as praias lhe
fossem desfavoráveis. A freguesia cresceu demograficamente, ultrapassando o
Estoril e Carcavelos e equiparando-se a Cascais. No entanto, embora os
políticos devessem ter pressionado as decisões municipais, para que esta terra
deixasse de ser o lugar dolorosamente secundário que sempre foi mas que agora
está, claramente, desajustado em relação ao seu estatuto económico e social.
Quem passa no
centro de Alcabideche e vê o estado dos passeios e das casas, a fealdade do
largo e a ausência de plantas pode pensar que a única função daquela rua é
conduzir ao shopping.
O antigo
restaurante do Tirano continua esquecido, a avançar aceleradamente para a ruina
e o desabamento. Talvez, numa destas noites, caia com estrépito e acorde todos
os cidadãos desta terra. Um espaço daqueles pode ser aproveitado para o bem
comum.
Se formos às
outras localidades, deparamos com o mesmo panorama deprimente. O centro de
Manique é um bom exemplo.
Não pode
haver bem-estar social em localidades onde as pessoas apenas podem sair à rua se
andam coladinhas às paredes, para não serem atropeladas, e se querem um local aprazível
têm de procurá-lo na sua imaginação.
António Costa
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